Contudo, desta vez, numa veia menos satírica ou irónica... Tenho a agradecer este texto à minha musa inspiradora... uma música que ouvi num concerto e quando li a letra fiquei de quatro (não nesse sentido.. ai ai ai ai essas mentes!!!). O meu obrigada aos Tragic Comic pela música que fazem e que tão alegremente apresentam nos seus concertos, e um obrigada especial ao Ozzy que me facultou a letra da música!
Aqui vos deixo um excerto da minha mais recente criação:
"Deambulo por um caminho estranho.
Não consigo aperceber-me se é noite ou dia, há sol, mas tudo à minha volta é escuro, mas não aquele escuro das nuvens ou do cair da noite... Antes um escuro doentio que oscila entre o púrpura e o negro.
As árvores estão como que mortas, sem folhas, os ramos como ossos agudos e ameaçadores, mas sem vida, sem seiva. Por entre eles prendem-se fiapos de um qualquer tecido... Tento aproximar-me mas a imagem foge.
Já não distingo o real do irreal. As minhas roupas são-me estranhas e estão esfarrapadas, talvez o tecido que se encontra nas árvores pertença à saia do meu vestido?! Não sei... tudo é escuro, e tudo pode ser qualquer coisa.
A vegetação morta e negra aos meus pés, estranhamente não larga qualquer odor, nem bom, nem mau, mas ainda assim revolta-me o estômago.
Quero gritar, mas a voz estrangula-se-me na garganta. É abafada por algo que me é exterior. Contudo, os meus pensamentos, ouço-os como se estivesse a falar. Tudo o resto é silêncio, tudo o resto está morto.
Como vim aqui parar? Não sei... Queria saber, queria compreender, mas não sei nem compreendo.
Olho para mim mesma com um pouco de mais atenção. Noto que a minha pele está anormalmente pálida, as veias, outrora cheias de vida a pulsar nelas, estão visíveis, mas mortiças. Sinto-me fria! Fria não... agora que me sinto, sei que estou gelada, mas não tenho frio... Agora que reparo, quase nem tenho pulsação! Está fraca, quase que imperceptível ao toque.
Se tivesse um espelho sei que veria olheiras fundas e escuras sob os meus olhos. Os olhos... tão vivos e brilhantes... Pergunto-me como estarão eles agora! Testemunhas de tudo aquilo por que passei, das loucuras que me assaltam a mente à noite, das visões que me perseguem durante o dia. Nada existe, mas tudo está lá... E eles vêm, continuamente, sem sequer pestanejarem...
Onde estou eu? Não vejo nada nem ninguém, apenas as árvores nuas e mortas que se afastam à medida que caminho. Volto a perguntar-me se estarei realmente aqui ou se esta é apenas mais uma das tantas visões ou dos inúmeros pesadelos que tenho tido...
Tento correr, tento alcançar algo que nem mesmo eu sei o que é. Sei apenas que quero sair dali, acordar, despertar... Qualquer coisa que me faça sentir viva outra vez. Quero sentir-me quente. Quero sentir o coração a bater-me no peito. Quero sentir as minhas veias a pulsar com o sangue que corre nelas. Mas as pernas não obedecem ao meu pensamento, o vestido pesa toneladas... Não que pese realmente, mas transmite-me essa sensação.
Estou presa em mim mesma, algures num cenário que eu mesma criei, somente com a minha própria companhia... Quero sair e não posso, não consigo. Mais um grito estrangulado dentro de mim, e dói... Dói imenso. As lágrimas caem em silêncio e a amargura derruba-me.
Sinto-me cansada... Tão cansada. Olho em redor e nada... Nem uma alma, um recanto, nada! Enrolo-me sobre mim mesma naquele chão morto. O vestido confere-me algum conforto. A náusea começa a passar. As formas começam a desaparecer... Primeiro o sol escuro e o céu negro, depois as árvores e os seus ramos ameaçadores. Por fim, o chão em que estou.
Tão cansada... Sinto-me tão cansada. Só quero dormir... Dormir... Começo a fechar os olhos. Parece então que uma luz suave e quente me começa a envolver, doce... tão doce. E quente, reconfortante. Aninho-me mais em mim mesma e deixo-me levar pelo conforto e pelo brilho da luz. Cansada, tão cansada... Vou dormir... Apenas dormir..."
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Paz... finalmente paz!
Por: Milene Emídio
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