fevereiro 02, 2006

O Amanhã (excerto)

Como já tenho vindo a fazer em fóruns, agora que tenho um blog, resolvi também postar algo de minha autoria (não que os artigos não o sejam, porque são)... um dos textos que vou escrevendo quando a vontade aperta, a inspitação se solta e me dá na cabeça para me sentar em frente do computador com o word aberto e tal... Podem deixar, se quiserem, os vossos comentários. Para quem quiser ler o texto na íntegra, é falar comigo que eu envio.


O Amanhã

«Esperei-te…
Esperei-te em vão… Pensei que acabasses por aparecer, mas nem tu, nem qualquer notícia tua.
Apenas o vazio me consome, consome o calor deste quarto. A dor aperta e tu não vens. Esperei-te toda a noite, e o dia antes desta. Para ser franca já perdi a conta às horas, dias, quem sabe até mesmo semanas… para mim o tempo já pouco significado tem, queria apenas ter-te aqui comigo e de ti nem sinal.
O frio apodera-se da minha alma, enregela-me o corpo, as lágrimas foram tantas que me encontro seca e oca por dentro. Limito-me a esperar por ti, dia e noite, sem cessar. Por onde andas? Que te impede de dizer o que se passa? Porque não vens?(...)
»


O corpo tremia-me como que sacudido por um qualquer vento, as lágrimas ameaçavam cair novamente, gordas e salgadas, mas lutei contra elas com as forças que ainda me restavam. A sensação de vazio adensava-se, já não me sentia oca, as lágrimas interiores preenchiam-me, mas não queria chorar, não o ia fazer.
(...)
Saí da água com o mesmo passo com que lá tinha entrado, como que comungando com a areia fina sob os meus pés e com as ondas que me embalavam a saia. Estava encharcada até aos ossos, mas ainda assim não sentia frio. A lua banhava o céu com a sua luz prateada e as estrelas decoravam cada ponto do manto negro. Não havia qualquer nuvem e a brisa era somente um murmúrio dos espíritos. Sentei-me. A areia era fofa e limpa. Cruzei as pernas, fechei os olhos e ali me deixei estar durante o que me pareceram horas. A última tentativa de encontrá-lo… invocaria os guardiães, pediria ajuda à deusa mãe e faria esse último esforço para tentar saber o que lhe acontecera. À minha volta desenhei um círculo, mentalmente construí um pentagrama e telepaticamente tentei o impossível. Uma vez mais… tudo se mostrou mudo perante a minha vontade. Não conseguiria saber dele, não o tinha conseguido durante todo o tempo em que o esperei e não iria ser agora.
(...)
A minha mente estava vazia tal como o meu corpo. O luto teria de ser feito. Estranho falar em luto quando não sei sequer o que lhe aconteceu, mas se não me quis ver, nem notícias me enviou… terei de dar a sua presença como extinta. O termo adequado será mesmo luto!
Não… não queria voltar a chorar nem a sofrer como sofri naqueles dias, naquelas semanas. Continuaria a esperar em silêncio, mas não da forma ingénua e pura como o tinha feito até então.


Por: Milene Emídio

2 comentários:

Anónimo disse...

Wow...Está muito bom mesmo...Gostei imenso...Teceste espectacularmente com as tuas palavras uma imagem e um sentimento tão forte...Parabéns...Fiquei muito curioso com resto da obra visto que é um excerto...Continua... ;)**

Anónimo disse...

O que dizer.... hum hum.... tá intenso é a palavra exacta ... oh pá sou numa mulher de poucas palavras não como tu =)aproveita esse dom....