junho 10, 2007

Viagem...

Mais um texto de minha autoria. Escrito hoje, que pode vir a ser incluído num outro livro, se o houver... Mais um saído de um sonho, como quase todos os que escrevo... Comentem ;)


O tempo estava quente mesmo para um país Nórdico. A ideia de fazerem a viagem de férias à Noruega tinha sido inesperada. Com tantos destinos, ainda que todos mais virados para o cultural, esse país surgiu à última hora, mas acabou por agradar a todos.
O Hotel era um edifício alto, amplo, moderno e com vistas lindíssimas. Os quartos não se ficavam atrás, espaçosos, com janelas que ocupavam toda uma parede, com casa de banho privada.
Esta era a última noite que lá passavam. O regresso a casa estava marcado para o dia seguinte por volta das dez da manhã. Inês, Catarina e Joana não queriam perder a última oportunidade de se divertirem. Escolheram os vestidos mais ousados e glamorosos que tinham e desceram até ao bar do hotel. A gerência tinha organizado uma festa nesse espaço para essa mesma noite, após o jantar.


Na sala encontravam-se já Diogo e Pedro, vestidos a rigor, de fato, ocupando uma mesa. Elas aproximaram-se e ocuparam os restantes lugares.
Já tinha passado um mês desde que Inês e Diogo se tinham afastado. Ele pedira-lhe um tempo para pensar, para reflectir sobre o que queria fazer da sua vida, argumentando que enquanto não estivesse bem com ele mesmo, não conseguiria estar bem com mais ninguém. Ela respeitou a sua vontade, conferindo-lhe o tempo que ele necessitasse para voltar a sentir-se bem, mas deixou claro que não desistiria dos seus sentimentos, do enorme amor que sentia por ele. No fundo, algo lhe dizia que também ele a amava como ela o amava, apenas a confusão lhe toldava a visão de tudo. Mas esta noite ele estava ali, sorridente, descontraído, lindo... Era difícil agir como apenas amiga quando o coração lhe gritava outra coisa. Ele também não ficou indiferente à produção de Inês, do vestido longo, sem costas, a maquilhagem subtil e proporcionada, realçando-lhe os olhos.


Os cinco amigos falaram, dançaram, beberam. Ainda não era muito tarde, talvez passasse um pouco da meia noite, mas os hóspedes começaram a retirar-se para os seus quartos.
Embora estivessem no mesmo piso, as raparigas tinham ficado no quarto dez, com vista para o rio; aos rapazes fora-lhes atribuído o quarto sete, quase paralelo ao das raparigas. Despediram-se no corredor antes de entrarem cada um para os seus respectivos quartos. Inês demorou o seu olhar, fixando os olhos de Diogo. Por fim entraram.
O quarto apresentava uma claridade estranha, mas natural. Inês acercou-se da janela observando o rio, as luzes da cidade, um pouco mais distantes, o céu...
Joana chamou-lhe a atenção começando a entoar uma musica que seguidamente começou a dar no leitor de CDs, não se fazendo rogada, começou a dançar, levando as amigas a seguirem-lhe os passos. O riso imperava e os passos arrojados enchiam o quarto. Ninguém deu pela entrada de Diogo, que ficou à porta a admirar a cena, perdido de riso. Sem que Inês repasse, ele fez sinal a Joana e Catarina para que saíssem por momentos. Foi aí que Inês o viu. Continuava com as calças e a camisa do fato. Estava lindo, charmoso, um verdadeiro predador. Já não sorria, estava sério, mas não no sentido grave, antes com a expressão de quem quer tomar uma decisão, mas precisa de uma base de apoio, de uma confirmação da outra parte. Avançou até ela, que se tinha virado entretanto para olhar novamente o rio, e enlaçou-lhe a cintura, apoiando o seu queixo no ombro dela. O coração de Inês disparou, não sabendo ao certo o que depreender do gesto.


- Adoro esta vista. – Não sabendo que mais dizer optou por um comentário banal, mas continuava tensa.
- Inês, eu...
Não teve tempo de concluir a frase. Inês voltara-se para ele, olhando-o nos olhos. As mãos dele continuavam na sua cintura. Ela estava tão próxima, a sua fragrância fresca enebriava-o, mas tinha medo que ela não lhe desse a confirmação de que necessitava. Tinha de correr o risco, apostar no que sentia e levar a cabo o que lá tinha ido fazer.


Aproximou lentamente a sua face da dela, viu-a começar a fechar os olhos, aproximou-se, então, um pouco mais até que os seus lábios se tocaram. Um toque leve, suave, doce, uma pressão quase imperceptível, mas que fez correr o sangue nas veias de ambos. Inês esperava por aquele momento há semanas, mas não tinha havido qualquer oportunidade. O beijo alongou-se, um pouco mais de pressão, um pouco mais de sentimento. Perderam-se no tempo e no espaço. A frustração acumulada e os sentimentos retidos soltaram-se por fim. Da gentileza passaram à paixão ardente que os consumia. Desenvencilharam-se da roupa, que se tornara um obstáculo. O importante, o essencial naquele momento, era sentirem-se um ao outro. Era o toque de pele com pele, era acalmar o forte desejo que os consumia. Trancaram a porta e já não havia qualquer barreira que os separasse. Amaram-se com uma intensidade que nem Inês nem Diogo se lembravam de alguma vez ter acontecido. Sorveram cada pedaço de corpo um do outro, era como se não existisse um amanhã. No entanto, apesar da pressa e do fogo da paixão, Diogo mostrava-se um amante doce, meigo, apaixonado. Essa combinação levou Inês bem perto das lágrimas quando atingiu o clímax ao mesmo tempo que ele. Desta vez não eram lágrimas sofridas, amargas, desesperadas como as que tinha chorado durante quase um mês. Eram, antes, lágrimas de felicidade, de libertação. Ficaram abraçados, ele ainda dentro dela, em silêncio. Não eram precisas palavras. O acto em si tinha sido mais que revelador. Amavam-se, e o certo era acreditar nesse sentimento e seguir em frente. A amizade nunca se perdera, era preciso agora preservar o que tinham conquistado de novo. Lentamente arrastaram-se para o presente, para o quarto em que estavam. Vestiram-se e beijaram-se novamente. Outra vez como amantes que eram, como casal que eram. Não foram murmuradas promessas, bastava um olhar e estava tudo lá. Encontrar-se-iam novamente de manhã, para voltarem para casa. Agora era tempo de dormir, de sonhar.


Milene Emídio

imagem: Liquid Fire, de Cristina Ortega (pormenor)

7 comentários:

Karol disse...

Querida Edineia!

Muito lindo este excerto!... De certo escreverás um best-seller, com tanta gente que procura na literatura, nas artes de uma forma geral, encontrar semelhenças e formas de pensar e sentir as coisas como nós!... É verdade que por vezes a necessidade da linguagem, de atribuir denominações verbais ao que sentimos, nos priva e afasta do mais puro dos sentimentos... E por vezes é melhor de facto não dizer nada! Só sentir!... Sentir que o Amor liberta, não aprisiona, que o Amor deixa e pode tudo, e não limita, nada nem ninguém... O Amor , o verdadeiro Amor é incondicional... mas a nossa sociedade tem vindo a transformar muitas vezes o Amor em dependencia, física ou psicológica, em dor e sofrimento... Percebamos de uma vez por todas que o Amor não é uma fonte de sofrimento, mas sim uma força libertadora que nos faz sentir que podemos desbravar o mundo inteiro e dizer a todos que é possivel ser feliz!... Aconteça o que acontecer... O Medo... esse sim, é limitador das nossas acções, esse sim aprisiona os nossos corações não nos deixa voar...
Enfim... Apenas pensamentos e desabafos de alguém que pensa que nasceu no século errado... lol Beijoka grande! Continua a escrever e a partilhar com todos o que pensas e sentes! Dessa forma poderás sempre contribuir para muita coisa... mesmo sem te aperceberes! ;)

Anónimo disse...

Eu não ia comentar o dito, mas depois do comentário acima de mim, só me resta assinar por baixo de todas as palavras ditas e dizer que por razões pessoais este texto me deprime ó sra dona milene. =X

Anónimo disse...

É lá! Quase me atrevo a perguntar onde está a bolinha vermelha no canto superior direito do post?! :p Agora a sério, muito bom, para variar... quase me senti um vouyer a ler o texto, tão bem descrita que está a situação! Aos dois amantes, apetece perguntar porquê a demora da consumação daquilo que sentiam? Porquê ter deixado para a última noite? Bom, sendo esta uma pergunta retórica, dá vontade de responder por eles, dizendo que assim sabe melhor! Dá-se mais valor, pois o sentimento de perda rondou por certo ambos durantes uns dias... intensificando assim a certeza que teimava em não morrer, mas que sucumbia lentamente à doença que teimamos em ver como cura - o Amor...

Dis Pater disse...

Que há a dizer? já não é o 1º texto da Mi que leio e espero que não seja o último, tendo todos eles uma intensidade tal que inebria qualquer comum dos mortais. Eu pessoalmente sinto uma bela empatia por este texto porque sinto que sou algo parecido em termos de personalidade com o Diogo.. diga-se de passagem que a confusão que ele sente tb já a senti algumas vezes e neste momento estou a sentir de novo. E as questões fisicas e amorosas dele são-me totalmente familiares. Com isto tudo para dizer que este texto tocou-me sentimentalmente de uma grande forma que a própria Mi saberá como... continua Mi!! bj

Anónimo disse...

eu acho, o texto/excerto/palavrinhas etc... espetacular, pela envolvência e simplesmente por ser bonito e estar muito bem escrito...nem sequer se parece com nada daquela algarviada que eu e os restante comuns mortais rabiscam nestes blogs virtuais! (lol)... eu depois quero o livro autografado ok? :P

Anónimo disse...

Está muito fixe. Eu não tenho jeito para fazer críticas mas devo dizer que gostei. No entanto fiquei com pena das outras duas miudas que aparentemente tiveram de encontrar outro quarto para passar a noite... :-)
Mas está muito porreiro. Continua, e já sabes que quero ler o teu livro!!!!

Beijinhos
DK

Joaquim Amândio Santos disse...

os desencontros no encontro.
seja sempre um ritual de sedução, não uma manipulação de conquista!

O texto está docemente deslizante e, como tal, ostenta o merecimento da inclusão de mais alguns detalhes descritivos das ambiências.