Car@s, como ainda não tenho todas as fotos tiradas naquele paraíso que visitei faz hoje um mês, optei por não desvendar ainda a aventura que foi a minha viagem de férias às terras mágicas da Irlanda - talvez no próximo post.
Entretanto, deixo-vos com mais um excerto da mais recente criação... Ainda por terminar. :)
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O chão era verde, cheio de erva, arbustos e pontuado por algumas árvores centenárias e rochas altas, largas, arredondadas e lisas. Olhou à sua volta, o céu estava cinzento, mas não ameaçava chuva. Havia uma réstia de névoa por entre as copas das árvores e que impediam ver para além da muralha do castelo que se desenhava a sensivelmente oitocentos metros do local onde se encontrava. Ligeiramente mais perto estava ela, uma mulher mediana, esguia, com cabelo cor de fogo, comprido e liso, espalhado ao sabor do vento. Os seus olhos cinzentos como o céu e profundos, fitavam-no, e os seus lábios rosa estavam abertos num sorriso doce e quente que lhe iluminava o rosto. Envergava um vestido preto de corte medieval, corpete justo, mangas compridas em sino e saia comprida e ligeiramente rodada. Viam-se pequenos apliques de renda, também ela negra, no decote direito e na base das mangas.
Diogo aproximou-se lentamente, sempre de olhos postos na figura feminina à sua frente. Ela sorria-lhe docemente, um sorriso que lhe aquecia o olhar e lhe dava alguma cor às faces. Afastou os braços, apenas o suficiente para que a brisa lhe envolvesse o torso. Naquela posição, poder-se-ia dizer que os braços se tinham aberto como que a chamá-lo para um abraço quente e seguro. Bastava a sua presença para Diogo se sentir seguro, feliz, completo.
Mais três passos e estava à sua frente. Olhou-a nos olhos, sorriu-lhe e estendeu um braço para lhe tocar nas faces. Colocou a sua mão entre o lóbulo da orelha e o pescoço. A pele era macia, alva e fresca. A sua fragrância, libertada pela brisa, era fresca, frutada... Citrinos, tinha quase a certeza que a fragrância continha citrinos.
Ela avançou, em silêncio, encostando-se nele, pousando a sua cabeça no ombro dele, envolvendo-lhe a cintura com os seus braços. Os seus lábios, assim como a sua respiração roçavam-lhe a pele exposta do pesçoco. Não resistindo àquele abraço, Diogo abraçou-a de forma segura, forte, mas sem apertar demasiado. Passaram-se segundos, minutos... Nenhum dos dois se mexeu. Deixaram-se ficar assim por algum tempo, nenhum deles soube precisar quanto.
- Quem és tu? – perguntou Diogo.
A figura feminina ergueu a cabeça para o fitar. Sorriu-lhe, mas não lhe respondeu. Colocou o indicador direito sobre os lábios do seu interlocutor como que para o silenciar e sorriu-lhe. Depois afastou-se ligeiramente dele, continuando a sorrir e virou-se de costas, começando a caminhar na direcção da muralha. Ia virando a cabeça na direcção de Diogo, sempre com um sorriso, chamando-o com uma mão.
Ele seguiu-a, fixando a sua figura ondulante ao vento. Já não era a primeira vez que a via. Sabia exactamente para onde se dirigia. Há cinco anos que ela fazia parte dos seus sonhos, ou melhor, há cinco anos que ela era o seu único sonho. E que sonho. A sensação de liberdade, de felicidade, de preenchimento, compreensão, camaradagem... Podia dizer-se completo.
Chegaram ambos a uma espécie de clareira, dado que apenas a zona oriental da muralha tinha um bosque denso. Nessa clareira estava uma tenda de tecidos vários e coloridos. Era espaçosa. Diogo continuava a fitar a figura feminina que se tinha sentado numas almofadas dispostas aleatoriamente no chão, à entrada da tenda, sob um toldo feito com os mesmos tecidos. Ao seu sinal, juntou-se-lhe. Não havia palavras... em cinco anos nunca lhe tinha dito o seu nome.
Ela sorria-lhe e olhava-o dissimuladamente sob as longas pestanas. As faces estavam coradas da caminhada. Diogo sorriu-lhe também. Pegou-lhe na mão e beijou-lhe os nós dos dedos, a palma e o pulso. Ela corou um pouco mais, retirando a mão das dele para lhe afagar o rosto. Passou-lhe um dedo pela sobrancelha, pelo maxilar, pelo contorno dos olhos, do nariz e dos lábios. Parou nos lábios. O dedo circundava aquele pedaço de pele macio, quente, sequioso por um beijo. Aproximou-se dele lentamente, mantendo o olhar. Diogo seguiu o seu impulso e beijou-a. Começou por um beijo suave, doce, meigo. Um beijo de reconhecimento de dois amantes que se encontram através do tempo e do espaço. Não muito depois o beijo transformou-se em algo carnal, apaixonado, quente, exigente, profundo e sôfrego. Abraçaram-se enquanto os seus lábios unidos se deleitavam com sabores e texturas das suas bocas.
No exterior da tenda o nevoeiro adensava-se. A aragem soprava mais fria. Mas ali naquele recanto, o frio não entrava. O abraço alastrou-se para uma descoberta de dois corpos. Diogo despia-a com cuidado e gentileza, mas a sua boa vinha reclamar aquele corpo como seu. Deixava-lhe um rasto de beijos e carícias a cada recanto que tocava, a cada peça de roupa que despia. Ela não se fez rogada e também o despiu, também percorreu os seus lábios deixando um traçado de beijos ao longo daquele torso tonificado. As carícias tornaram-se mais íntimas, as mãos tentavam abranger o máximo de pele que conseguiam. As respirações estavam ofegantes e os corpos começavam a ficar suados. Não levou muito tempo a que os corpos se fundissem num só. O libertar da ansiedade, o terminar de uma busca intensa, o celebrar a vida e a paixão, tudo contido numa união. Moviam-se lentamente, Diogo tinha receio de magoá-la, sempre tivera e pensava que sempre iria ter. Os dedos das suas mãos estavam agora entrelaçados nos dela. O ritmo ia aumentando gradualmente e ambos se aproximavam do precipício dos sentidos... E saltaram, juntos, aterrando juntos num colchão de nuvens e estrelas.
Deixaram-se ficar deitados e abraçados, sob o toldo, a ver a névoa à sua volta. A brisa continuava a soprar fria, o céu cinzento, tudo permanecia igual. Diogo acariciava-lhe o longo cabelo, o braço e o pescoço com uma mão, enquanto a outra se mantinha entrelaçada com a dela. Continuaram aconchegados um no outro durante algum tempo. Em silêncio.
Um raio rasgou o céu e fez-se ouvir um trovão. O som feroz despertou os amantes deitados sobre as almofadas. Ela levantou-se e começou a vestir-se de forma apressada. Estava na hora. Diogo estava meio atordoado, pois tinha adormecido entretanto, no aconchego em que se encontrava.
A figura feminina, já totalmente vestida olhou novamente para ele, desta vez com um semblante triste. Aqueles olhos cinzentos e profundos relutantes em deixarem-no, mas tinha de ir.
- Posso saber como te chamas? – perguntou Diogo.
- Tenho de ir. – E dizendo isto desapareceu sob uns panos coloridos que escondiam um cubículo num dos cantos da tenda.
Diogo sabia que naquele espaço se encontrava um espelho enorme, oval, antigo, com armação em ferro fundido e trabalhado. Sabia também que quando se levantasse para verificar, ela não estaria lá. Ainda assim fez o que tinha de ser feito. Levantou-se lentamente, olhando para o exterior e vendo a chuva que começava a cair. Vestiu peça por peça, calçou-se. Não sabia bem porquê, mas tinha o hábito de ajeitar as almofadas. Deixá-las sempre dispostas tal como estavam antes de ele lá chegar. Antes de ter a mulher que amava nos seus braços. Antes de a fazer sua. Dirigiu-se então ao interior da tenda. Salvo uma mesa rústica de madeira e dois bancos compridos, um de cada lado da mesa, também eles em madeira, a tenda encontrava-se vazia. Caminhou até ao canto direito da tenda onde um amontoado de panos encobriam um cubículo que se assemelhava a um vestiário. Desviou o que tapava a entrada e, tal como previra, e como sempre acontecia, este encontrava-se vazio. Apenas o espelho antigo e trabalhado preenchia parte do interior daquele espaço.
Outro trovão, bem por cima do local onde Diogo se encontrava e tudo se desvaneceu.
Diogo acordou sobressaltado.